O Incidente do Elefante
- O Caminho do Profeta
- 21 de jan.
- 6 min de leitura

Abdul Muttalib tinha um outro problema para enfrentar. Abraha, o governador Iemenita do Rei do Abissínio, tinha reunido um exército para destruir a Caaba.
Com inveja das pessoas que se inclinaram para a Caaba para fins de culto, ele havia construído, na cidade de San'a um grande templo como alternativa. Decorou o templo com os melhores adornos de sua época. Para isso, ele recebia também o apoio do imperador bizantino. Seu objetivo era garantir que as pessoas que iam à Caaba para o culto da peregrinação mudassem de direção e viessem a esta igreja nova. Ele deixou isso claro em sua carta enviada ao Rei abissínio:
- Ó meu Rei! Construí um templo tão bonito para o senhor, que até hoje nunca foi construído algo semelhante em homenagem a um Rei. E não vou sossegar até que todos os Árabes venham para cá cumprir os seus deveres da peregrinação.
No entanto, não tinha como criar um lugar alternativo a um lugar fundado na piedade e na sinceridade. De fato, ninguém tinha respondido a este convite de frequentar a templo novo.
E um homem da tribo dos filhos de Quinané, que soube que Abraha havia construído esta igreja para mudar a direção dos peregrinos, foi escondido e sujou o interior e o exterior desta igreja com o propósito de insultar, fazendo suas necessidades, trouxe tanta sujeira quanto pôde e a derramou na Igreja.
Este incidente enfureceu Abraha e foi a gota d'água que transbordou a taça; ele imediatamente deu ordens e pediu que um grande exército fosse preparado. Dizendo:
– Sem dúvida, esses Árabes fizeram isso porque o nosso templo seria uma alternativa à sua casa sagrada; juro que vou desmantelar as pedras da Caaba uma a uma até o chão.
No mesmo tempo enviou uma carta ao Abissínio, pedindo para que o Rei Najashi lhe enviasse seu famoso elefante descomunal chamado Mahmud para usar nesta guerra.
Então, ele preparou um grande exército de sessenta mil homens e começou a caminhar em direção a Meca. Havia também outros elefantes entre seu exército. Ele mantinha Mahmud sob seu controle.
Quando chegaram a um local chamado Mughammis perto de Meca, Abraha ordenou que seu exército acampasse e enviou um destacamento para Meca com um comandante chamado Aswad Ibn Maqsud como o batedor. Este destacamento, retornou de Meca usurpando duzentos camelos pertencentes a Abdul Muttalib, o chefe de Meca, bem como bens valiosos e rebanhos pertencentes aos coraixitas e aos Tihamitas. E dessa forma que Os Quraysh, Sadayl e Tihamitas ficaram cientes da existência de um perigo que chegava às suas portas. No entanto, quando notaram o tamanho do exército que se aproximava, perceberam que não havia muito a ser feito e entraram em desespero.
Mais tarde, Abraha enviou a seguinte mensagem a Abdul Muttalib com um mensageiro chamado Hunata.
– Eu não vim para lutar com você; meu propósito de vir é destruir esta Caaba. Se você não criar problemas me desobedecendo, não terei nada a ver com você.
A resposta que o mensageiro recebeu de Abdul Muttalib foi muito diferente do que se esperava:
- Por Deus, também não pretendemos lutar contra ele; nem temos força para isso. Mas esta casa é sagrada, a casa de Allah e a herança de Abraão. Se ele vai protegê-la, certamente irá protegê-la; se ele vai permitir que ela seja destruída, não há nada que possamos fazer.
Hunata pediu para Abdul Muttalib acompanhá-lo até o acampamento, e partiram para Mughammis.
O objetivo de Abraha era óbvio, e não tinha nenhum poder para ficar na frente dele. Mas a esperança deveria ser mantida. Por isso, Abdul Muttalib estava em busca de uma solução. Primeiro, ele procurou por um rosto familiar e descobriu que um velho amigo chamado Zi Nefr estava lá. Ficou feliz; no entanto, este homem, chamado Zi Nefr, estava entre os cativos de Abraha. Mesmo assim, Abdul Muttalib informou-o do seu desejo de se encontrar com Abraha e dissuadi-lo deste trabalho.
- Oh Zi Nefr! Não é possível encontrar uma solução para o problema que nos acometeu?
Zi Nefr respondeu:
– O que pode fazer um prisioneiro que não sabe quando será morto? Por isso, não há nada que eu possa fazer por ti, mas o cuidador dos elefantes é meu amigo, se quiser, posso pedir ajuda para ele sobre o seu desejo de falar com governador.
Naquela situação cada sinal era uma grande esperança, o cuidador de elefantes foi avisado e informado. Pouco tempo depois, ele já estava em frente a Abraha:
- Ó Governador! Este homem é o mestre dos coraixitas; ele está pedindo sua permissão para comparecer a sua presença. Ele é o dono das caravanas de Meca, uma pessoa honrada e generosa com as pessoas, trata bem os animais, até distribui comida aos predadores nas montanhas. Autoriza que ele se apresente e fale com o senhor pelo menos uma vez?
O pedido foi aceito. Ao ver o Abdul Muttalib na sua frente, corpulento, imponente e bonito, Abraha desceu do lugar alto onde estava acomodado, sentou-se no chão com ele, ofereceu comidas e bebidas. Depois perguntou através do seu intérprete:
- O que precisas, o que queres de mim?
A resposta foi um pouco peculiar:
- Quero que me devolvam os meus duzentos camelos que me foram tirados.
Abraha teve um grande choque. Que tipo de governante é esse?
Abdul Muttalib estava preocupado somente com seus camelos, mesmo sabendo que a cidade que governava estava sob ameaça de destruição por um exército praticamente imbatível.
- Na verdade, desde a primeira vez que o vi, fiquei impressionado com a sua postura. Expressou a sua reação, e acrescentou:
- Mas, enquanto falamos, percebo que você não é esse tipo de pessoa. Está atrás unicamente dos duzentos camelos que peguei de você, mas não fala nada do meu exército que veio destruir a casa da sua religião e de vossos antepassados!
Abdul Muttalib, com toda a calma, sem fazer concessões à sua dignidade falou sinceramente:
- Sou apenas o dono dos meus camelos e sem dúvida, o dono desta casa a protegerá. Assim ele queria dizer que, Abraha podia fazer o que quisesse por enquanto, mas não seria tão fácil quanto pensava, quando uma pessoa necessita ajuda e procura refúgio no Todo poderoso, nenhum outro poder além D’ele pode prejudicar essa pessoa, e Abdul Muttalib lembrava Abraha desse poder.
Explodindo de raiva, Abraha falou:
- Ninguém pode protegê-la contra mim.
Abdul Muttalib, num tom de voz confiante disse:
- Veja bem, aqui está ela e aqui está você, o que for para acontecer, acontecerá.
A atmosfera era muito tensa. Abraha, que estava muito zangado com as respostas que recebeu, devolveu os camelos de Abdul Muttalib.
Voltando à cidade, Abdul Muttalib reuniu as pessoas informando-as da gravidade da situação, e pediu que todos deixassem Meca e se refugiassem nas montanhas para salvar suas vidas. Depois ele foi para a Caaba com os líderes de Meca. Lá, ele segurou a aldrava da porta da Caaba e juntos começaram a invocar ao Senhor da Misericórdia por horas pedindo por ajuda contra o exército do Abraha e uma força para poder proteger a herança do Profeta Abraão. Depois deixaram a Caaba e subiram as colinas para se proteger.
Por outro lado, sob ordem de Abraha, o exército já avançava em direção à Caaba para destruí-la. No entanto, havia uma pessoa neste exército chamada Muzayl ibn Habib que não deu ouvidos a esta instrução. Ele, que estava encarregado de cuidar dos elefantes, inclinou-se para o ouvido de Mahmud, o elefante gigante de Najashi, e disse:
- Fique onde está e não se levante! Depois volte de onde veio em segurança, porque você está em um lugar sagrado." Esta pessoa tinha as mesmas características do crente entre a dinastia do Faraó. Cumpriu seu dever e fugiu de lá em paz e refugiou-se nas montanhas.
Deus faz as pessoas servirem a sua causa de diferentes maneiras. De fato, Mahmud havia sentado onde estava e, apesar de todos os esforços, não se levantava. Mas ao virá-lo em sentido contrário a Caaba prontamente saltava e isso se repetia em todas as direções exceto na direção da Caaba. Espancaram o pobre animal de uma forma inimaginável, até ficar coberto de sangue, mas o resultado não mudou.
Neste momento, aconteceu algo inesperado: uma grande escuridão tomou conta da paisagem costeira aproximando-se deles, e ao chegar um pouco mais perto, perceberam que se tratava de um imenso bando de pássaros.
Estas aves vinham fazendo um grande ruído voando em direção ao exército de Abraha que travava guerra contra Deus, carregavam três pedras do tamanho de grão de bico. Cada pedra que elas soltavam atingia um soldado, que desabava ao chão. Um grande medo e preocupação tomou conta do exército. Eles nunca tinham visto ou ouvido falar algo parecido, mesmo correndo e aos gritos tentando escapar não conseguiam fugir do fato de que uma das pedras os encontrasse. E Abraha também foi atingido e seu corpo começou a descamar devido ao impacto da pedra, e ele deu o último suspiro padecendo sob agonia e medo.
Em pouco tempo, o magnífico exército de Abraha, ao qual ninguém se atreveu a resistir, foi destruído diante daqueles que encontraram força voltando-se para o verdadeiro dono do poder.
Tal como a limpeza que se efetua numa mesa, uma mão oculta livrou o Hijaz do exército de Abraha como se passasse uma esponja.
E esta limpeza foi seguida por outra: caiu uma chuva muito forte, e as inundações resultantes arrastaram até o mar os corpos do exército blasfemo desafiador da causa de Deus. Assim, o Hijaz foi purificado e transformado em um lugar habitável e em pouco tempo seria honrado pelo sultão dos mundos.
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