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A Espera em Damasco

Atualizado: 5 de nov.



Naqueles dias, Damasco era um dos importantes centros de comercio, e os coraixitas se organizavam em caravanas para fazer comercio nesta cidade, costumeiramente, todos os anos.

'Bilad al-Sham' referia-se “as cidades de Damasco”, não apenas a atual cidade, mas também uma ampla região que incluía a Palestina e a Jordânia.


A fé dominante era a cristã, sob o domínio bizantino, e havia um número significativo de estudiosos religiosos, judeus e cristãos. Esses sábios, de vez em quando abordavam o assunto sobre “os dias futuros” e falavam sobre um Profeta que estava por vir.


Os padres Bahira e Nastura, que moravam em Busra, cidade que era considerada um dos importantes centros da época, foram os pioneiros dentre os sábios. Ambos os sacerdotes, sendo Nastura sucessor de Bahira, dedicaram-se a uma vida monástica e aguardavam a vinda do Último Profeta nos seus locais de culto. Eles observavam o caminho do novo profeta através das suas pequenas janelas, fechadas às coisas mundanas e abertas as coisas de Deus, com preocupação e tristeza pelo atraso da vinda do Profeta.1


Selmán -i Fárisí (Selmani Farici) era um jovem de origem iraniana, zoroastrista e muito devoto pela adoração. Numa das viagens pela cidade de Damasco, o que ele viu na igreja que visitou, o levou a outra forma de adoração.


Com isso ele deixou sua cidade natal e mudou-se para Damasco e se afiliou a esta igreja. Porém, o padre da igreja na qual estava filiado não representava o que ele esperava. Ele enganava os fiéis e obtinha ganhos injustos ao explorar os sentimentos religiosos deles. Ele morreu pouco depois e um novo padre foi nomeado em seu lugar. Agora Selmán -i Fárissí (Selmani Farici) passava todo o seu tempo com esse novo sacerdote, a quem ele apreciava e seguia como exemplo em todos os sentidos. Porém, a vida ‘e limitada e um dia este padre também adoeceu, e Selman abordou-o apressadamente perguntando a quem ele seguiria depois dele.


- Ah, meu filho! Juro por Deus, não conheço ninguém por aqui que eu possa recomendar para ti, as pessoas se perderam, muitas delas trocaram sua religião pelo mundo e a maioria delas abandonaram seus próprios valores.  Eu lhe recomendo “fulano” na cidade de Mossul, vá até ele pois ele é um homem que compartilha dos mesmos pensamentos e sensibilidades que temos - dizia o padre. Logo depois o padre faleceu. Para Selman-i Fárissi isso foi muito entristecedor. 

 

Sem perder tempo ele foi direto para Mossul e encontrou a pessoa indicada, passando seus dias com seu novo guia, mas acontece que este homem também não viveu muito.


Antes de morrer este padre forneceu o endereço de um novo guia, agora na cidade de Nussaybin.


Selman ficou em Nussaybin por um tempo, mas novamente ele devia se pôr a caminho em busca de um novo guia.  O velho padre da cidade de Nussaybin, com quem ele estava hospedado, orientara para ir à cidade de Ammuriyye. Ele foi lá sem demora. Sua estadia em Ammuriyye foi um pouco mais longa; por mais longos que fossem os dias, a vida tinha um limite e o padre desta cidade também estava prestes a falecer. Ele também estava muito preocupado. De vez em quando ele olhava para o horizonte e simplesmente ficava parado.

Num desses momentos Selman perguntou com uma voz implorante:

 

"Com quem você está me deixando?"

O padre começou a dizer as seguintes palavras com uma voz triste:

 

– Hoje não conheço ninguém por aqui a quem possa confiar você. Mas a sombra do Último Profeta que será enviado de acordo com a religião Hanif de Abraão está sobre nós. Ele aparecerá em terras árabes. O local para onde ele irá migrar é um local repleto de tamareiras, entre dois locais quentes. O Profeta que virá terá alguns sinais e marcas que não ficarão ocultos. Vai ter o selo da profecia entre seus dois ombros. Embora ele aceite presentes, nunca aceitará nem comerá de caridades. Se você puder ir a esta cidade, vá e espere por ele lá, você O reconhecerá quando o vir.2

 

E o triste Salman vendeu todos os seus bens e propriedades acumulados e partiu novamente. Desta vez ele buscava o Último Profeta de Allah, em que ele acreditava que seria enviado.

 

Ibn Heyyebân morava em um bairro rico com terras ricas perto de Damasco. Sua predisposição para a religião logo fez dele um judeu estudioso. Com base nas informações que leu e aprendeu, saiu de casa e pegou a estrada em busca do Profeta que esperava. O destino dele era Medina. La se estabeleceria e assim não perderia a chegada do Último Profeta.


Em pouco tempo, integrou-se ao povo de Medina e tornou-se um deles. Ele era um verdadeiro homem bondoso; estava orando, fazendo o bem às pessoas, dando conselhos e pensando em nada além de adoração e obediência a Allah.


Em tempos de seca, o povo de Medina vinha até ele e queriam contar com presença dele nas orações pela vinda da chuva. Ele não diria “sim” a esses pedidos, a menos que uma oferta voluntária fosse dada em nome de Allah, e ele pediria que uma atividade fosse realizada em nome da caridade antes de sair para orar. Depois paravam para orar e logo testemunhavam nuvens carregadas chegando e começando a derramar chuva, que era um meio de misericórdia. A mesma situação foi vivenciada diversas vezes e gerou se uma opinião firme sobre ele.

 

No entanto já havia sinais de morte para Ibn Heyyebân. Quando perceberam que ele estava indo embora, as pessoas se reuniram ao seu redor e quiseram aproveitar dos seus últimos conselhos. Ele mesmo percebeu que estava prestes a morrer e discursou ao povo da seguinte forma:

 

– Ó comunidade judaica! Como podem ver, vim de uma cidade cheia de ricas terras de trigo e uvas para uma terra cheia de fome e pobreza. Vocês sabem qual foi a razão disso?

 

Todos ficaram intrigados. Mas quem poderia saber o real motivo de sua vinda? Ele tinha vindo silenciosamente e vivido uma vida normal, como um morador da cidade.

 

“Você sabe melhor”, eles responderam murmurando.

 

Agora precisava se fazer uma anotação na história, e Ibn Heyyebân começou a dizer o seguinte:

 

– Vim a esta cidade para esperar o Profeta, cujo aparecimento é muito próximo. Esta é a cidade para onde ele irá migrar. Eu esperava que Ele viesse aqui e eu O seguisse. Ele está quase chegando, sua sombra está sobre vocês…

 

 

Mas ele também tinha uma preocupação. Ele permaneceu entre eles e aprendeu completamente o caráter e natureza desta comunidade. Estas pessoas eram teimosas e teriam uma atitude negativa em relação a qualquer desenvolvimento fora delas, independentemente de ser bom ou mau, nunca o aceitariam. O que aconteceria se eles mostrassem a mesma atitude quando este Profeta viesse? Nesse caso, eles deveriam ter sido avisados sobre o que lhes aconteceria. Ele lhes transmitiu estas frases inesquecíveis, como se penetrassem em suas almas:

 

– Ó comunidade judaica! não se oponham a Ele, porque Ele é um encarregado de lutar pela causa de Allah e será enviado para derrotar aqueles que se opõem a Ele. Não deixem que isso os impeça de segui-Lo!

 

Ele disse isso e fechou seus olhos sem poder ver o Profeta que tanto esperava. 

Agora restavam para Medina, lindas palavras e lembranças doceis do Ibn Heyyeban.3

 

 


 

 

 

1)      O encontro entre nosso Profeta (que paz e bençãos de Allah esteja com ele) e esses dois sacerdotes e as conversas entre eles serão incluídos nas páginas seguintes.

2)      Suyûtî, Hasâisu'l-Kubrâ, 31/01-38

3)      Beyhakî, Sunenü'l-Kübrâ, 9/114 (18042) O Mensageiro de Allah (saw) aparecera entre as montanhas Faran, encarregado do dever de profecia e então migrara para Medina... Quando chegou o dia em que os filhos de Qurayza, um dos principais atores da discórdia, foram sitiados por exército dos muçulmanos; alguns jovens judeus que tinham escutado o Ibn Heyyebân anos atrás, se reuniram e se dirigiram à sua tribo da seguinte forma:

– Ó Filhos de Qurayza! Juro por Allah, este é o Profeta de quem Ibn Hayyeban lhes falou e de quem recebeu uma promessa.

 

Diante disso, algumas pessoas que viveram aquele dia disseram por unanimidade:

 

– Sim, juramos que você está certo. Os acontecimentos foram exatamente como ele disse, depois renderam-se e escolheram o Islã. Assim já ganhavam a proteção tanto sobre seus bens quanto as suas vidas.

 

O próprio Ibn Heyyebân não conseguira ver “Aquele” que esperava; mas ele foi fundamental para abrir os olhos dos outros.

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